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O Diabo Veste Prada: uma análise das relações organizacionais presentes no filme

Quem já assistiu o filme O Diabo Veste Prada, provavelmente se sentiu frustrado com a forma de liderança exercida pela chefe Miranda Priestly e com as inúmeras humilhações às quais a mulher submetia os funcionários da revista Runway.


Mas será que podemos fazer uma leitura das práticas de Miranda com base nos conhecimentos de Gestão de Pessoas? O ambiente de trabalho da Runway poderia ter sido mais satisfatório para as pessoas inseridas nele? Seria possível reter talentos, tal como a personagem Andrea Sachs, dentro da empresa?


No artigo em questão, tentaremos responder a essas perguntas.



Uma breve contextualização do filme


Para fins de maior compreensão, traremos uma breve contextualização da obra e de seus principais acontecimentos.


O filme O Diabo Veste Prada (2006), dirigido por David Frankel, traz como protagonista a jovem Andrea Sachs – uma mulher recém-formada em jornalismo que sonhava em obter uma oportunidade de trabalho. Por isso, a moça acaba se mudando para Nova York e, apesar de possuir um conhecimento muito escasso do universo da moda, é surpreendentemente contratada por uma das mais conceituadas revistas de moda, chamada Runway. Em seu novo ambiente de trabalho, Andy atua como secretária da editora Miranda Priestly, uma profissional com uma postura extremamente exigente e autoritária em relação a seus funcionários, sendo capaz de submetê-los à realização de tarefas extremamente difíceis e fora de sua realidade, além de sobrecarregá-los e humilhá-los quando não conseguiam entregar as mesmas.



Após um certo tempo nesse trabalho hostil, percebe-se uma mudança na postura de Andrea: ela era uma jovem que recusava seguir os padrões da moda, vestia-se conforme o seu próprio gosto pessoal e valorizava passar tempo com seu namorado e amigos. Contudo, a mulher abandona, aos poucos, o seu estilo de vestimentas próprio e passa a utilizar cada vez mais marcas de grife, se dedicando ao máximo à revista, de modo a inclusive ter menos tempo de lazer com seu ciclo social. Diante dessa situação, Andy, apesar de estar conseguindo obter a confiança da chefe Miranda com tamanho empenho, começa a questionar a sua habilidade em continuar como sua assistente.


O Diabo Veste Prada e o Modelo de Gestão de Pessoas


Como as práticas em Gestão de Pessoas podem ser compreendidas no filme? Em primeiro lugar, é necessário compreender a diferença entre os termos Gestão de Pessoas (GP) e Recursos Humanos (RH) para, assim, analisar qual dessas concepções está mais presente no ambiente de trabalho da revista Runway.


No caso do termo RH, pressupõe-se que os colaboradores da organização, assim como ocorre com os recursos materiais e financeiros, são um tipo de recurso a ser gerenciado. Por outro lado, o termo Gestão de Pessoas considera que os indivíduos não podem ser colocados no mesmo nível que os outros recursos organizacionais, uma vez que eles carregam consigo a dimensão da subjetividade, diferentemente dos demais recursos - em geral, objetivos (Gondim, Souza & Peixoto, 2013). Para saber mais sobre as diferenças entre RH e GP, veja esse artigo no blog.


Além disso, o modelo de Gestão de Pessoas embasa as suas práticas na noção de que as pessoas são os principais responsáveis pelos resultados de uma organização, enxergando o funcionário como uma parte fundamental para o seu desenvolvimento e competitividade. Assim, ele é responsável por organizar a vida no trabalho e tenta conciliar da melhor forma possível os interesses da organização e as outras esferas que integram a vida pessoal de seus membros, tais como lazer, família, vida social e política.


Mas qual dessas concepções é mais presente no ambiente de trabalho da revista Runway? Essa questão é mais complexa do que aparenta, porém, de uma maneira simplificada, podemos pensar que o modelo de trabalho da revista se distancia consideravelmente das práticas de GP. Entre os vários motivos para tal afirmação, podemos observar que a líder Miranda não costumava adaptar as ações da revista à realidade e às necessidades dos colaboradores, privilegiando sempre os interesses empresariais em detrimento dos funcionários. Isso é evidente quando, na busca por atingir maior destaque e reconhecimento na moda, a chefe sobrecarrega os funcionários da Runway com tarefas excessivamente cansativas e difíceis de serem realizadas.


No caso da secretária Andrea, a mesma deixa de ter tempo para sair com seu namorado e amigos para não ser demitida do trabalho, o que acaba a distanciando dos mesmos. Tendo isso em vista, torna-se possível inferir que o olhar de Miranda sobre seus funcionários aproxima-se mais de meros instrumentos utilizados por ela a fim de alcançar os seus próprios objetivos no universo da moda.




O Diabo Veste Prada e Retenção de Talentos


O termo Retenção de Talentos consiste no conjunto de ações adotadas por uma organização com o intuito de manter os membros - com potencial de trazer inovação e qualidade para os seus serviços - dentro da própria organização. Para conhecer mais sobre Retenção de Talentos, leia esse artigo.


Em relação ao filme O Diabo Veste Prada, pode-se pensar numa série de práticas que poderiam ser adotadas por Miranda na revista Runway e, consequentemente, evitar a saída de funcionários com enorme potencial para a empresa, assim como Andrea Sachs.


1) Employer Branding


Primeiramente, podemos pensar que um fortalecimento da Employer Branding, ou seja, da imagem que a revista transmite para o mercado acerca de seu ambiente de trabalho, poderia ser muito útil nesse processo.


No filme, é evidente que a marca da empresa, apesar de bastante renomada no mundo da moda, adquire um caráter negativo em termos da forma de trabalho ali realizada, de modo que a maioria dos indivíduos temem a chefe Miranda e reconhecem que a mesma menospreza os seus funcionários. Essa imagem do trabalho na Runway prejudica, por sua vez, o próprio ingresso de novos membros na revista, tendo em vista que muitos acabam desistindo por uma certa apreensão em relação à chefe ou fazem a entrevista de seleção mais nervosos do que o habitual.


2) Estruturar o Recrutamento e Seleção


Sob esse viés, podemos até pontuar que uma melhor estruturação do processo de recrutamento e seleção da empresa poderia contribuir para a retenção de membros.


Na entrevista de Andrea, sua futura líder a julgou por não “ter estilo e senso de moda”, a olhou com menosprezo e não a deixou terminar de falar sobre o seu currículo. Em conseguinte, Andy saiu se sentindo extremamente mal e desrespeitada, o que mostrou que os critérios do processo de seleção da Runway não eram bem definidos.


Um processo seletivo humanizado permite que o candidato possa demonstrar mais facilmente suas competências, além de fornecer ao líder maior clareza sobre as competências que não estão desenvolvidas no candidato. No caso de Andy, essa comunicação ocorre indiretamente: ela percebe não ter competências sobre a moda e estilo valorizados pela empresa pelos julgamentos dos colegas e da liderança, tornando o ambiente de trabalho hostil e resultando em sua saída. Para entender melhor sobre a importância de um processo seletivo humanizado, leia este artigo.


3) Estruturar o Onboarding


Uma outra ação que seria fundamental para manter Andy Sachs e outros funcionários na revista seria estruturar o Onboarding, isto é, os processos que o membro passa ao entrar na empresa, até que se estabeleça em sua função.


No caso do filme, podemos dizer que tais processos não estão presentes após o ingresso de Andrea em seu cargo, pois a mulher não foi apresentada aos valores da revista e muito menos aos procedimentos que ela teria que realizar ali em seu trabalho. Tal situação a deixou bastante insegura durante a execução de tarefas, por não estar por dentro das tendências da moda e, quando perguntava sobre para a chefe, ela costumava responder “se vira” ou “não me incomode com as suas perguntas”. Essas atitudes da liderança geram um ambiente de trabalho hostil e incerto, que dificultam a permanência de Andy na empresa. O que nos leva a considerar o clima organizacional no próximo tópico


4) Monitorar o Clima Organizacional


Por fim, o monitoramento do clima organizacional da Runway, ou seja, das percepções dos colaboradores sobre a revista também poderiam contribuir para a retenção de talentos na mesma. Além do mapeamento das percepções dos funcionários, a Análise de Clima pode fornecer planos de intervenção sobre os problemas levantados, contribuindo para a retenção de talentos. Leia mais sobre Clima Organizacional clicando aqui.


A partir do filme, podemos inferir que, caso uma Análise de Clima fosse implementada na empresa, seria possível detectar que muitos funcionários se incomodavam com a ausência do suporte de sua líder Miranda, não se sentiam muito integrados com seus colegas de trabalho devido à alta competitividade existente naquele ambiente, além do estresse elevado em virtude da sobrecarga de tarefas. Com o conhecimento dessas percepções acerca da revista Runway e de sua líder, medidas poderiam ser tomadas com o objetivo de aumentar a qualidade de vida no trabalho, aumentando as chances de Andy e dos demais membros permanecerem ali.



Nesse artigo, buscamos pensar em possíveis formas de evitar que Andy tomasse a decisão de sair da empresa ao final do filme, sob a perspectiva da Gestão por Competências. Vale ressaltar que outras questões poderiam ter sido analisadas em maior profundidade, visto a riqueza do filme.


 

Qual o estilo de liderança adotado por Miranda e a sua relação com o desempenho dos funcionários ou qual a Cultura Organizacional da empresa Runaway e seria ela receptível às sugestões desse artigo, são algumas das questões que ficaram em aberto.


Quais outras questões e filmes você gostaria de ver nos próximos artigos? Comente abaixo suas sugestões e não deixe de acompanhar a Irhis nas redes sociais para não perder os próximos artigos.


 

Referências


Gondim, S. M. G., Souza, J. J. & Peixoto, A. L. A. (2013). Gestão de Pessoas. In: Borges, L.;


Mourão, L. (Org). O Trabalho e as Organizações. Atuações a partir da Psicologia. Porto Alegre: Editora Artmed.


O Diabo Veste Prada (2006). Direção: David Frankel. Distribuição 20th Fox Films.


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